MAMÃE, SE VIRA NOS TRINTA...

Não tenho cólica, nem febre, decididamente não é um choro de dor. A fralda está limpa, estou com uma roupa fresca para a estação, então também não é um choro de desconforto. Não é fome, acabei de mamar.

Isso acontece com muita freqüência. E a mamãe ficava batendo a cabeça na tentativa de descobrir o que me afligia. Até que um belo dia de sol, “zaz”, ela descobriu, eu só queria conversar. “Ufa”, foi sofrido, mas valeu a pena fazer ela entender o que eu queria. Agora, é só alegria.
Sim, quem acha que só porque não falo eu quero silêncio, está redondamente enganado. Bate-papo é a palavra chave para as horas de tensão sem explicação.

E nós batemos altos e bons papos. Falamos sobre tudo, ou melhor, mamãe fala e eu escuto direitinho. Cada palavra fica guardada. Meu assunto preferido são os bichinhos que moram no meu quarto.

A leoa Leona e o pato Zeca, que ganhei da vovó, o sr. Amigão, que ganhei da tia Cássia, o ursinho Enroladinho e o baby Mickey, da minha madrinha, a vaca Pintada, do “Eti”, os amiguinhos do móbile, da minha tia Dé. Entre outros.
Os nomes foram dados pelo papai, mas concordei com todos. Pra falar a verdade, não concordei com um, o “Mimi que ninguém gosta”. Como ninguém gosta, eu adoro o mimi. Mas tudo bem, mudo o nome quando crescer um bocadinho. Explico para o papai que bichos não devem ter nomes compostos e ele vai entender sem ficar chateado.

E por falar em papai, com ele também converso um monte. Ele entendeu antes que a mamãe que eu gosto de conversar muito. A noite que a mamãe participou de uma reunião no trabalho, foi o dia que mais conversamos. Ficamos duas horas rodando pelo centro.
Ele me falou sobre muitas coisas, mas isso eu conto outro dia, afinal de contas, papai tem assunto pra caramba. Já sei quase tudo sobre as copas do mundo. Não sei direito o que é isso ainda, mas já entendi que vou ter que gostar muito desse tal “Futebol” se quiser ver meu pai feliz.